Durante esta
pandemia sobre o que se mais fala é corona vírus, então pra variar um pouquinho
vamos falar sobre outras doenças. Quando se pensa em floresta tropical, uma das
primeiras coisas que se vem a mente (ao menos de quem já esteve em uma) são os
mosquitos. Esses insetos da ordem diptera que voam ao nosso redor fazendo
barulho e no caso dos hematófagos se
alimentando do nosso sangue. Como se não bastasse alguns ainda nos transmitem
microrganismos patogênicos causadores de várias doenças famosas e muitas vezes
mortais.
During this pandemic everyone is
talking about is the corona virus, so for a little change let's talk about
other diseases. When we think about tropical rainforest, one of the first
things that comes to mind (at least from those who already have been in one) is the mosquitoes. those insects of the diptera order that fly around us making noise
and in the case of hematophagous sucking our blood and in some cases
transmit us pathogenic microorganisms that cause several famous and often
deadly diseases.
No Brasil os mosquitos do gênero Aedes são
especialmente problemáticos, pois se reproduzem muito rápido, põe seus ovos em
água parada que é muito comum em áreas urbanas e transmitem doenças como dengue
e chikungunya. Varias formas de controlar a população de Aedes tem sido
tentadas, sendo a mais comum a alternativa química onde se pulveriza as ruas com malation,
um veneno poderoso e nocivo espalhado por carros na forma de uma névoa branca. Quase toda criança brasileira já ficou com medo destes carros e com boa razão.
O controle biológico também tem sido testado introduzindo peixes em
reservatórios de água, porém, introduzir uma espécie em um ambiente pode ter
consequências catastróficas e exemplos disso não faltam, sendo ideal apostar em
espécies nativas para este “serviço”.
In Brazil, mosquitoes of the
genus Aedes are especially problematic, because they reproduce very fast, put their
eggs in standing water, which is very common in urban areas and transmit
diseases such as dengue and chikungunya. Various methods to control the
population of Aedes have been tried, the most common is the chemistry, where the
streets are sprayed with malathion, a powerful and harmful poison spread by
cars in the form of a white fog. Almost every Brazilian child has been afraid
of these cars and with good reason. Biological control has also been tested by
introducing fish into water reservoirs, however, introducing a species into an
environment can have catastrophic consequences, we have several examples in
literature, being ideal to choose native species for this "service".
Os anfíbios anuros( sapos,
rãs e pererecas) são conhecidos comedores de mosquitos, varias campanhas para a
preservação dos anfíbios se apoiam na afirmação de que eles são controladores
biológicos de mosquitos e que portanto nos protegem de doenças, porém esta é
uma das maiores e mais antigas fake News que a pseudociência já divulgou sobre
a biodiversidade. Isso mesmo, anuros não comem mosquitos e você foi enganado a
vida inteira. Pode checar tantos artigos científicos que analisaram dieta de
anuros quanto quiser, você verá que eles comem vários tipos de invertebrados
sendo a maioria artrópodes, mas não encontrará mosquito em nenhum, exceto
talvez por algum acidente esporádico.
Anuran amphibians (toads, frogs
and treefrogs) are known mosquito eaters, several campaigns for the
preservation of amphibians are based on the claim that they are biological
controllers of mosquitoes and therefore protect us from diseases, but this is one of
the largest and oldest fake
News that pseudoscience has already told about biodiversity. That's right,
anurans do not eat mosquitoes and you have been duped your whole life. You can
check as many scientific papers that analyzed anuran diet as much as you want,
you will see that they eat various types of invertebrates, most of them
arthropods, but you will not find mosquitoes in any of them, except perhaps for some
sporadic accident.
É claro que estamos
falando da fase adulta, mas a maioria dos anfíbios tem uma fase larval chamada
de girino que se parece com um peixe e vive na água. Muitos anuros
colocam seus ovos em água parada assim como os mosquitos e quando os girinos
nascem, eles sim comem as larvas. Então já temos o mosquito e a fake News,
vamos para a protagonista de nossa crônica, a perereca.
Of course, we're talking about
adult forms, but most amphibians have a larval stage called a tadpole that looks like a fish and lives in water. Many frogs lay their eggs in standing
water just like mosquitoes and when tadpoles born, they eat the larvaes. Then
we have the mosquito and fake news, lets go to the protagonist of our chronicle,
the tree frog.
Phyllodytes
é um gênero de perereca da família Hylidae com 17 espécies, endêmico da mata
atlântica que ocorre da paraíba até o norte do rio de janeiro. Estas pequenas
pererecas vivem exclusivamente em bromélias e não são capazes de cruzar grandes
distancias fora delas, por isso possuem um estilo de vida restrito formando
verdadeiros condomínios em aglomerações de bromélias. Os Phyllodytes dependem
das bromélias como abrigo e também usam a água que se acumula no centro para se
hidratar e colocar seus ovos. Seus girinos nascem e vivem ali até se tornarem
adultos se alimentando da matéria orgânica que cai nestes ambientes, estes
hábitos fazem com que o destino dos phyllodytes esteja intimamente ligado com a
conservação das bromélias.
Phyllodytes is a genus of tree
frog of the Hylidae family with 17 species, endemic to the Brazilian Atlantic Forest
that occurs from Paraiba state the north of Rio de Janeiro state. These small
tree frogs live exclusively on bromeliads and are not able to cross large
distances outside them, so they have a restricted lifestyle forming true
condominiums in clusters of bromeliads. Phyllodytes depend on bromeliads as a
shelter and also use the water that accumulates in the center to hydrate and
lay their eggs. Their tadpoles born and live there until become adults, feeding
organic matter that falls in these environments. These habits make the fate of Phyllodytes closely linked to the conservation of bromeliads.
Estas pererecas
também ocorrem em bromélias urbanas e é aí que nossa história começa. Assim
como os phyllodytes os mosquitos também põem seus ovos em bromélias urbanas,
permitindo que os girinos comam as larvas. Para medir a eficiência dos girinos
de phyllodytes em predar larvas de aedes ,cientistas da Universidade Estadual
de Santa Cruz na Bahia, chefiados pelo professor Mirco Sole fizeram um
experimento em cativeiro: Eles capturaram vários girinos e larvas de dentro de
bromélias, mediram seu tamanho e os classificaram em pequenos, médios e grandes
depois distribuíram as categorias em todas as combinações possíveis em tubos de plástico cônicos de 50 ml com
água, para simular uma bromélia, em cada tubo havia 1 girino e 5 larvas .
These tree frogs also occur in urban bromeliads and this is where our
story begins. Like phyllodytes, mosquitoes also lay their eggs on urban
bromeliads, allowing tadpoles to eat the larvae. To measure the efficiency of Phyllodytes tadpoles in prey-upon aedes larvae scientists at the State University
of Santa Cruz(UESC) in Bahia state, Brazil, headed by professor Mirco Sole, performed
an experiment in captivity: They captured several tadpoles and larvae from
inside bromeliads, measured their size and classified them into small, medium
and large, latter distributed the categories in all possible combinations in 50 ml
conical plastic tubes with water, to simulate a bromeliad, in each tube
were 1 tadpole and 5 larvae.
Eles viram que a
eficiência de predação era alta sempre que a larva era de uma categoria de
tamanho menor que a do girino, ou seja, os girinos só conseguem comer as larvas
se elas forem menores do que eles. Deste modo os girinos comerão qualquer larva
que chegar a bromélia depois dele Controlando assim a população de mosquitos.
They saw that the efficiency of
predation was high whenever the larva was of a category of size smaller than
the tadpole, that is, the tadpoles can only eat the larvae if they are smaller
than themselves. In this way the tadpoles will eat any larvae that comes to the bromeliad after it, thus controlling the population of mosquitoes.
Nossa história
teria um final feliz (exceto para os mosquitos) se não fosse a presença de um
outro personagem que tem o mal hábito de complicar as coisas: O ser humano. Bromélias
urbanas ficam em arvores nos parques, praças e nas ruas e todos esses ambientes
são periodicamente pulverizados com malation que mata tanto as larvas quanto os
adultos das duas espécies.
Our story would have a happy
ending (except for mosquitoes) if it weren't for the presence of another
character who has a bad habit of complicating things: The human being. Urban bromeliads
are found in trees of parks, squares and on the streets, all of these
environments are periodically sprayed with malathion that kills both larvae and
adults of both species.
Fim da história? Não. Uma coisa que a natureza nos mostra com frequência é que a vida sempre
acha um jeito, e habitats vazios são um convite a recolonização. Os mosquitos,
voadores e de fácil dispersão voltam às bromélias em questão de semanas, mas os
phyllodytes, péssimos dispersores e que não sobrevivem muito tempo longe das
bromélias sem virar lanche, podem demorar anos ou até mesmo nunca voltarem
deixando as bromélias só para os mosquitos que agora não tem mais predadores e
podem se reproduzir loucamente e viver felizes para sempre.
Fim.
The end? No. One thing that nature often shows us is that life always
finds a way, and empty habitats are an invitation to recolonization. The mosquitoes,
flyiers and god dispersors return to bromeliads
in some weeks, but phyllodytes, poor dispersers and not able to survive much time
far from bromeliads without be eated by some predator, may take years or even
never return, leaving the bromeliads only for mosquitoes that now have no more
predators and can reproduce and live happy forever.
The end.
Gostaram da
história? Como se sentiram ao saber que foram enganados todos esses anos?
Qualquer duvida ou contribuição vão nos comentários. Segue agora o artigo
original e alguns outros com informações sobre os Phyllodytes.
Did
you like the story? How did you feel when you learned that you were cheated all
these years? Any questions or contributions go in the comments. Below is the
original paper and some others with information about Phyllodytes.
artigo da
UESC/UESC paper
mais links/ more links
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